A formação da academia de Belas Artes, remonta ao século XIV, quando
os artistas descobriram a perspectiva, e sentiram que a sua arte tinha
uma base científica, que não era uma arte somente manual, de artesão ou
servil. Ao se inspirar na Antiguidade Clássica, desvencilhando-se do
teocentrismo, o homem renascentista, teve consciência do seu valor e do
valor das artes plásticas. Este valor dos artistas foi aumentado
consideravelmente a partir da obra de Giorgio Vasari - Vidas de artistas
italianos - publicado em 1550.
Com o privilégio dado aos artistas, houve uma necessidade da
formação de academias de Belas Artes. A idéia de Academia, de ensino
oficial, de desvincular o artista de um único mestre (corporações de
ofício) e mostrar-lhe o exemplo de vários mestres, surge na Toscana -
Itália, no século XVI, para assegurar a universalização do ensino e uma
melhor vigilância da opinião por parte do governo.
Logo depois as academias se espalham por toda a Europa. Entretanto,
na América Latina, é somente no ano de 1785, na Cidade do México, que é
formada a primeira Academia chamada Academia Real de San Carlos.
No Brasil, em 1816, chega a Missão Francesa chefiada por Joachim
Lebreton, a pedido de D. João VI, para formar a Academia de Belas Artes.
Nesta Missão vieram vários artistas como: Jean Baptiste Debret, Marc
Ferrez Félix Èmile Taunay, Zephyrin Ferrez, Auguste-Henri Victor
Grandjean de Montigny, Nicolas Antoine Taunay e Auguste Marie Taunay.
É criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 12 de agosto
de 1816, não chegando a funcionar e, em 12/10/1820, recebe nova
denominação — Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura
Civil. Novamente a escola não funciona, e finalmente em 23/11/1820, há a
criação de uma escola de ensino artístico com o nome de Academia de
Belas Artes, com aulas de desenho, pintura, escultura e medalha.
Os artistas franceses eram influenciados pelo academicismo europeu
e, enfatizaram um ensino indiferente à realidade brasileira, ou seja,
uma arte para atender a elite dirigente, no sentido de documentar os
acontecimentos de interesse desta elite, cuja memória seria perpetuada.
Era uma arte padronizada, para decorar salões, de um gosto artístico
determinado, seguindo o modelo das cortes européias de encomendar telas
ou bustos para documentar fatos de seu interesse.
Logo após a chegada da Missão Francesa, vários artistas estrangeiros
aqui chegaram, normalmente junto a expedições científicas, e retrataram
tanto as cidades, principalmente Rio de Janeiro, como a natureza.
Dentre os artistas pode-se citar, Thomas Ender, austríaco, chegou ao
Brasil junto à missão científica que acompanhou a Arquiduquesa Dona
Leopoldina, noiva de Dom Pedro. Ficou no Brasil, somente no período de
1817 a 1818, entretanto, deixou diversas obras sobre os aspectos do Rio
de Janeiro; Charles Landseer, inglês, desenhista, pintor e gravador
chegou ao Brasil acompanhando o embaixador Sir Charles Stuart, que vinha
tratar de nossa independência política, fez diversos retratos e
documentou em aquarelas e desenhos, além de retratar vários aspectos do
Rio de Janeiro; Johann Moritz Rugendas, alemão, teve uma intensa vida
artística no Rio de Janeiro, participando das exposições da Academia.
Os artistas que chegaram neste momento, da mesma forma que os
anteriores, passam a atender às solicitações da Corte,
desinteressando-se dos temas e costumes da terra, ou de movimentos
sociais. Não há muitas mudanças nas formas ou estilos, mas sim de
artistas.
Em 02 de dezembro de 1829, por iniciativa de Debret, realizou-se na
Academia de Belas Artes a primeira exposição coletiva de artes plásticas
com o título, “Exposição da Classe de Pintura Histórica”. Das 115 obras
expostas, 82 foram executadas por alunos. Essas exposições foram
repetidas e deram origem às ‘Exposições Gerais’ (instituídas por Félix
Èmile Taunay), com apresentação regular e prêmios oficiais.
Em meados do século XIX, no Brasil, há uma evolução nas artes
plásticas, pois surgem os artistas nacionais formados pela Academia, e
as Exposições Gerais vão sendo ampliadas. Há um afluxo de jovens de
outras províncias ao Rio de Janeiro, atraídos pelos cursos oferecidos
pela Academia de Belas Artes e a oportunidade de aperfeiçoamento na
Europa.
Nas premiações das Exposições Gerais de Belas artes, os artistas que
tiveram a oportunidade de viajar à Europa, puderam complementar seu
aprendizado, técnico e cultural, e ao retornar ao Brasil, transmitir um
pouco deste conhecimento aos alunos da Academia.
D. Pedro II, muitas vezes, oferecia bolsas de estudo aos artistas,
era benevolente, entretanto mantinha uma mentalidade atenta aos modelos
das cortes, não aceitando qualquer traço popular. Porém, os artistas,
ainda que um pouco limitados, vão escapando da temática acadêmica, e
procuram, retratar em suas pinturas temas como a natureza, a vida
social, as pessoas no seu habitat real e muitas vezes pintam
naturezas-mortas, embora sejam pinturas de ateliê.
Nossa pintura, como as demais artes visuais, mantinha no século XIX
aquele mesmo atraso que se implantara no Brasil o neoclassicismo. Por
deficiência do meio, apenas animado pelas restritas veleidades de uma
Corte que visava a arte como um recurso ilustrativo de sua existência e
não como um reflexo da realidade social, o pintor brasileiro permanece
alheio aos grandes movimentos ideológicos que, no século XIX, deram a
cultura em geral e, conseqüentemente às artes, uma permanente vitalidade
criativa.
Alguns pintores formados pela Academia se destacaram: Vítor Meireles
de Lima, embora professor de pintura de paisagem não quebrava o rigor
do academicismo, Pedro Américo de Figueiredo e Melo, João Zeferino da
Costa, José Ferraz de Almeida Júnior, Rodolfo Amoedo, Henrique
Bernardelli, Belmiro Barbosa de Almeida, Antônio Diogo da Silva
Parreiras, Oscar Pereira da Silva, Francisco Aurélio de Figueiredo e
Melo, Antônio Firmino Monteiro, Antônio Rafael Pinto Bandeira, Décio
Rodrigues Vilares, Modesto Brocos Y Gomes, Benedito Calixto e Pedro
Weingartner, grande pintor gaúcho.
Havia um certo preconceito contra o gênero da paisagem, pois no
Brasil colonial a arte não se afastou da temática religiosa e com a
missão francesa a pintura era voltada para a pintura histórica, onde a
natureza só era usada como elemento de fundo de uma composição.
Foi com o pintor alemão, Georg Grimm, já influenciado pelo
impressionismo, quando nomeado para o ensino de paisagem na Academia,
logo depois do seu sucesso nas Exposições Gerais de 1882, que houve uma
revolução no ensino das artes no Brasil. Rompe-se com a pintura
convencional de ateliê, e os alunos vão com Georg Grimm, aos arredores
do Rio de Janeiro, à procura da natureza, de seus trechos preferidos da
paisagem e da cor. Das obras de Grimm, que ficaram no Brasil, pode-se
citar: Vista do Cavalão, Rochedos da Boa Viagem, Paisagem, Rua de Tunis e
Fazenda da Glória.
Um pintor que merece destaque é Estevão Roberto Silva, que embora
ligado aos discípulos de Grimm, não abandonou a A.B.A., continuando as
aulas com Vitor Meireles. Estevão é o primeiro pintor negro que se
destaca dentre os saídos da academia. Ele é o percussor do que se
conhece como happening, pois em uma de suas exposições com quadros de
frutas escondeu, por detrás dos quadros, frutas verdadeiras, o que
surpreendia os visitantes que percebiam em suas telas cheiro forte de
frutas. De suas composições merecem destaque: São Pedro, A Caridade e o
esboço para A Lei de 28 de Setembro.
A medida em que se aproxima a República, há uma mudança dentro da
Academia, um movimento contra o antigo sistema de ensino, que era
incapaz de corresponder aos novos anseios dos alunos e de alguns
professores como Henrique Bernadelli e Rodolfo Amoedo.
Na República, as Exposições Gerais, são substituídas pelo Salão
Nacional de Belas Artes, a Academia agora se chama Escola Nacional de
Belas Artes, e é também criado um Premio de Viagem, que permitia ao
vencedor uma permanência de dois anos na Europa.
Eliseu Visconti foi o primeiro aluno premiado, quando foi
restabelecido o Premio de Viagem da Escola, em 1892. Em Paris, ingressou
na École Nationale de Beaux Arts, e durante seu estágio, expôs
anualmente no Salon dês Artistes Françaises, onde obteve medalha de
prata na Exposição Universal de 1900 em Paris, com as telas: Recompensa
de São Sebastião, Gioventú e Dança das Oréadas. Visconti rompe
definitivamente com qualquer preconceito conservador na arte brasileira,
e toma consciência da pintura ao ar livre, da vibração luminosa e
atmosférica, tornando-se assim o pioneiro do modernismo no Brasil.
Sempre seguro na sua arte, tem sempre destaque na pintura brasileira,
seja no nu, no retrato, na paisagem, nos assuntos do cotidiano, ou nas
composições murais.
A República foi marcada culturalmente por uma forte oposição a
qualquer resquício do Império, pois no Império, o Brasil deixa de ser
colônia, passa a Reino Unido e precisa se desenvolver. E com a Missão
Francesa, as artes vão se formar através do olhar estrangeiro, não é
mais a terra nas suas particularidades, mas a terra europeizada.
Entretanto, com a República foi possível um rompimento gradual com o
padrão da arte convencional feita para documentar e ilustrar os
acontecimentos da Corte, surgindo assim os primeiros sinais para o
movimento da Semana de Arte Moderna de 1922, que introduziu o modernismo
no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário