quarta-feira, 9 de maio de 2018

Exposição em SP pensa em alternativas para salvar a Amazônia

Artistas e biólogos unem forças para entender as transformações da Terra e pensar em propostas para salvar o bioma brasileiro

Exposição em São Paulo pensa em alternativas para salvar a Amazônia (Foto:  divulgação)
Se desde os séculos 18 e 19 o Brasil ostenta a fama de local exuberante – graças à ajuda de naturalistas como Carl Friedrich Philipp von Martius, Henry Walter Bates e Alfred Russel Wallace, entre outros que vieram até aqui para estudar a fauna e flora da Amazônia –, a imagem do país gigante pela própria natureza ficou só no imaginário coletivo. A realidade sobre nossa maior floresta revela outra história: os cientistas recebem pouco incentivo para a pesquisa e a área em que toda a vegetação foi eliminada correspondia, até outubro de 2017, a 6.624 km² (o equivalente a mais de quatro cidades de São Paulo), de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.

Como reverter este processo? O primeiro passo é entender o rico ecossistema amazônico. Depois, é necessário conscientizar a população e, por fim, nos prepararmos para o futuro. Uma equipe apaixonante e apaixonada de biólogos e artistas está trabalhando arduamente para isso – é o que se verá na exposição Amazônia: Os Novos Viajantes, no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), com curadoria de Cauê Alves e da bióloga Lúcia Lohmann. Líder de uma pesquisa sobre a origem da Amazônia apoiada por Fapesp, National Science Foundation dos EUA e NASA, Lúcia levou artistas para as suas expedições, a fim de que eles criassem obras com base em suas percepções. “Sempre tive vontade de divulgar os resultados. O público precisa aprender sobre a importância do bioma para querer preservá-lo, e a arte ajuda a tocar as pessoas”, explica.

Exposição em São Paulo pensa em alternativas para salvar a Amazônia (Foto:  divulgação)
“A mostra será dividida em três módulos que se conectam: no científico, o visitante vai saber mais detalhes sobre o estudo botânico e zoológico que a Lúcia cruza com informações geológicas; no histórico, serão apresentados os registros dos naturalistas que passaram pela Amazônia nos séculos anteriores; e no de arte contemporânea, serão exibidos trabalhos de Claudia Andujar, Cildo Meireles, Melanie Smith, Margaret Mee, entre outros. É um jeito de aproximar a sociedade da questão de uma forma múltipla”, esclarece Cauê.

Entre as obras, vale destacar a instalação de Fernando Limberger, composta por um piso de areia vermelha, tocos queimados e sementes das quais nascerão plantas. A vontade é falar sobre as queimadas criminosas induzidas para criar pastos. A escultura de cupinzeiros de Simone Fontana Reis, por sua vez, é uma homenagem a Brancusi e um recado para aqueles que destroem a floresta. “O primeiro sinal de que um solo desmatado está começando a se recuperar é a presença de cupinzeiros. Quero questionar as necessidades humanas e suas consequências”, declara a autora. Não deixe de conferir, ainda, a estufa das plantas artificiais de Alberto Baraya, que problematiza a nossa própria ideia de natureza e conceitos de paisagismo e reflorestamento – um perfeito contraponto para os documentos de von Martius e as pesquisas científicas.

Exposição em São Paulo pensa em alternativas para salvar a Amazônia (Foto:  divulgação)
O objetivo do projeto de Lúcia é compreender como a Amazônia se formou ao longo desses 20 milhões de anos. “Esses organismos já passaram por uma série de mudanças globais – climáticas, químicas e geológicas – e, a partir do momento em que entendermos esses processos, poderemos nos preparar para o futuro”, explica. Ela garante que as novas tecnologias têm ajudado nas pesquisas. Mas é impossível não fazer a pergunta derradeira com um pouco de medo da resposta: ainda é possível salvar a Amazônia? “Sim, mas estamos correndo contra o tempo e cada um de nós precisa fazer a sua parte”.
De 28 /4 até 30/ 7.

Exposição em São Paulo pensa em alternativas para salvar a Amazônia (Foto:  divulgação)

PLANETA VIVO
Conectado com as pesquisas de Lúcia Lohmann, Thiago Rocha Pitta apresenta, de 24 de março a 28 de abril, O Primeiro Verde, na Galeria Millan. O artista produziu afrescos, esculturas e um vídeo que retratam microrganismos ancestrais, na busca de capturar a vibração de um planeta vivo. “Trata-se de reconhecer os processos que contribuíram para a formação do mundo. Também é uma lembrança de que nosso ambiente está respirando e mudando o tempo todo”, revela ele, que estuda desde o surgimento das cianobactérias, primeiros seres a realizar fotossíntese, há 3,7 bilhões de anos, até o período da “Grande Oxidação”, quando o oxigênio produzido por esses microrganismos começou a ser liberado na atmosfera, criando condições para a vida tal qual a conhecemos hoje. O objetivo? Entendermos e considerarmos nosso papel dentro dessa contínua transformação.

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