Quase 50 anos se passaram desde que dois ladrões
usaram navalhas para extrair uma cena natalina de
sua moldura do altar principal de uma capela em Palermo,
na Sicília. Considerado o terceiro maior crime
do mundo da arte pelo FBI, que estima o valor da
obra em 20 milhões de dólares, o caso ganhou fôlego
renovado na semana passada, quando policiais italianos
anunciaram novas pistas.
Segundo o “New York Times”, o ex-mafioso Gaetano
Grado informou no ano passado que, dias depois
do furto de “Natal com São Francisco de Assis e São
Lourenço”, ele próprio rastreou os responsáveis, sob
ordens do mafioso Gaetano Badalamenti.
De acordo com o informante, o próprio Badalamenti
— preso em 1984, em seguida condenado a 45
anos por traficar mais de 1,6 bilhão de dólares em
heroína para os EUA e morto em 2004 — adquiriu a
pintura, repassando-a a um negociante de arte suíço.
Grado disse que este “se sentou e chorou a não poder
mais” quando viu a imagem, a ponto de o mafioso
começar a pensar que “era alguém muito estúpido”.
Em seguida, o esteta teria afirmado que, para vender
a obra, precisaria retalhá-la em vários pedaços.
A chefe da Comissão Italiana de Combate à Máfia,
Rosy Bindi, todavia, disse a jornais que há indícios de
que o quadro permaneça intacto na Suíça, depois de
ter sido repassado para contrabandistas no país.
Segundo Bindi afirmou ao “Palermo Today”, o roubo
foi obra de criminosos comuns apoiados por especialistas.
Uma vez roubada, contudo, a pintura teria acabado nas mãos da Cosa Nostra: primeiro nas do todo-poderoso
Stefano Bontade, em seguida nas de Gaetano
Badalamenti. Ela acrescentou que “Badalamenti
não compreendeu a beleza da obra. Ele entendeu, contudo,
o quanto ela valia em termos econômicos”.
Ao “The Guardian”, Bindi disse: “Temos um número suficiente de evidências para lançar uma nova
investigação. Pedimos a colaboração de autoridades
estrangeiras, especialmente das suíças. Esperamos
trazer o quadro de volta à sua casa, em Palermo”.
O destino do quadro — também conhecido por
“A adoração”, cuja data de pintura varia entre 1600
e 1609, a depender do historiador — é um dos grandes
mistérios do mundo da arte. Na década de 1960,
todos os principais crimes que aconteciam em Palermo
tinham o toque da Máfia. A investigação, naturalmente,
concentrou-se na possibilidade de envolvimento
do crime organizado.
Ao longo dos anos, diversas teorias foram criadas,
a partir de depoimentos de suspeitos. Um deles disse
que o quadro se perdeu em um incêndio. Outro, que
foi abandonado e devorado por ratos. Hipóteses alternativas
especularam ainda que o quadro estivesse
escondido e só fosse mostrado durante encontros secretos
dos chefões do crime organizado. Outra lenda
urbana diz que um deles o usava como tapete.
No livro “The Caravaggio conspiracy” (1984), o
jornalista inglês Peter Watson conta sua aventura ao
lado de Rodolfo Sievero em busca do quadro perdido.
Ele diz que um traficante de arte chegou a oferecê-lo
a venda da pintura, mas um terremoto no dia
23 de novembro de 1980 impediu a transação.
Em 2015, uma réplica criada por uma laboratório
de restauração digital substituiu a pintura na capela.
O resultado da investigação de Bindi será entregue ao
Ministério Público de Palermo.
Fonte: http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2018/06/05/caravaggio-roubado-pode-estar-na-suica/
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