A Escola de Atenas (Scuola di Atenas, no original) é considerada uma das obras mais célebres de Rafael Sanzio, ou Rafaello, um dos grandes gênios da Alta Renascença italiana.
A pintura de largas dimensões (5 m x 7,7 m) foi produzida entre os anos de 1509 e 1511, por encomenda do Vaticano, e se encontra na Stanza della Segnatura, a biblioteca que pertencia ao Papa Júlio II.
Análise da obra A Escola de Atenas, de Rafael
Estamos perante um dos quatro afrescos localizados na saleta da Stanza della Segnatura que serviam de representação para as diferentes formas de conhecimento. Aqui, o foco está na Escola de Atenas, mais conhecida como Academia de Platão, um dos pontos altos da vida intelectual da Grécia Antiga.
Trata-se, assim, de uma homenagem à Filosofia que revela a influência e a revalorização do pensamento clássico em vigor durante este período. Nos outros afrescos, encontramos referências à Teologia, à Poesia e ao Direito.
Dispostas numa perspectiva sem falhas, como se fossem atores posicionados, a pintura apresenta cerca de sessenta figuras que se cruzam e discutem as suas teorias, representando algumas das mentes mais brilhantes da Grécia Antiga.
As principais figuras representadas na obra
Se parte dessas personagens são muito fáceis de identificar (por exemplo, Platão e Aristóteles ao centro), outras têm várias identificações possíveis e até paralelismos com os contemporâneos de Rafael.
Dos lados, e acima de todos, podemos também encontrar duas estátuas que simbolizam grandes deuses da mitologia grega. Apolo [figura 13], representando a luz da verdade, à esquerda, e Atena [figura 12], deusa da sabedoria, da civilização e da matemática, à direita.
Platão (428/427 a.C. – 347 a.C.)
Ao centro e à esquerda [figura 2], numa posição de destaque, está Platão, o fundador da Academia que foi também um grande filósofo e matemático.
O discípulo de Sócrates e mentor de Aristóteles aponta para cima, em referência ao seu pensamento idealista e metafísico. Com a outra mão, ele segura uma cópia de Timeu, um dos seus principais diálogos, marcado pelas reflexões sobre o mundo eterno.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.)
No centro, à direita, está Aristóteles [figura 1], lembrado principalmente pelo seu trabalho filosófico, embora tenha se debruçado sobre diversas matérias.
Ele aponta para a frente, para aquilo que está em seu redor, assinalando o mundo terrestre e a sua visão empírica acerca do conhecimento. Com a outra mão, ele segura um exemplar da Ética a Nicômaco, uma das suas obras fundamentais.
Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.)
Perto deles, do lado esquerdo da pintura, está Sócrates [figura 3], o pensador apontado como um dos fundadores da filosofia ocidental.
Distraído do que acontece no centro, o mestre está de costas e conversa com os seus discípulos, gesticulando, como se contasse ou explicasse alguma coisa.
Epicuro (341 a.C – 271/270 a.C.)
O filósofo que deu nome ao Epicurismo, uma corrente de pensamento que buscava a tranquilidade através dos pequenos prazeres da vida, surge no canto esquerdo do afresco [figura 5].
Coroado com folhas de videira, um símbolo associado à alegria e à felicidade, Epicuro está escrevendo um livro, rodeado dos seus seguidores.
Pitágoras (571/ 570 a. C. – 500/490 a. C.)
O célebre filósofo e matemático [figura 6] foi pintado escrevendo num caderno, enquanto um grupo de alunos o observa atentamente, tirando notas das suas explicações.
Lembrado, atualmente, pelo seu teorema, Pitágoras foi um mestre fundamental para os avanços da matemática, geometria e aritmética.
Heráclito (500 a.C. – 450 a.C.)
Conhecido como o "obscuro", o filósofo pré-socrático (que defendia que na vida "tudo flui") surge em primeiro plano, sentado nas escadas e isolado dos demais.
Esta parece ser uma referência ao espírito melancólico de Heráclito [figura 7], que escreve com uma das mãos no rosto, numa postura de contemplação.
Diógenes (412 a.C. – 323 a.C.)
Deitado no meio dos degraus, lendo um documento relaxadamente, está Diógenes [figura 8], uma figura ímpar da Grécia Antiga.
A posição em que se encontra remete para a própria conduta do filósofo que decidiu viver nas ruas, com um mendigo. Desprezando o poder e os bens materiais, ele encarava a pobreza com um caminho para encontrar a virtude e levar uma vida natural.
Euclides (aproximadamente 300 a.C. – sem data)
No canto inferior direito da pintura [figura 9], temos o matemático e discípulo de Sócrates que ficou conhecido como o "pai da Geometria".
Com o corpo dobrado, o professor usa um compasso para desenhar numa lousa, explicando um dos seus princípios. À sua volta, os alunos observam os seus movimentos e aprendem com eles.
Ptolomeu (90 – 168) e Rafael (1483 – 1520)
Ao lado de Euclides surge Ptolomeu [figura 10], o geógrafo e astrônomo que defendia que a Terra era o centro do Universo e foi representado segurando um globo.
À sua volta, estão diversos homens que o escutam, incluindo uma figura que olha diretamente para o espectador [figura 11], como se o encarasse e chamasse a sua atenção.
Acredita-se que este jovem pode representar o próprio Rafael, tratando-se de uma espécie de mensagem que o pintor tivesse deixado, "assinando" a sua obra.
Outras figuras e possíveis paralelismos
Além da possível presença do pintor, existem outros artistas do seu tempo que parecem ser referenciados na grandiosa obra. É o caso de Michelangelo (1475 –1564), um dos mestres da Renascença, que pode ter inspirado a aparência e as vestes de Heráclito.
Há também quem defenda outros possíveis tributos, por exemplo, que a figura de Platão teria sido baseada em Leonardo da Vinci (1452 – 1519) e a de Euclides em Bramante (1444 –1514).
Apesar da importância histórica e artística da obra, e de ser estudada a fundo por especialistas há séculos, existem ainda perguntas que ficam no ar. Algumas figuras apenas se encontram parcialmente identificadas, se tratando de hipóteses sem confirmação. É o caso de nomes como Antístenes, Xenofonte, Ésquines ou Arquimedes, entre outros.
Também Alexandre, o Grande (356 a.C. –323 a.C), que foi discípulo de Aristóteles, pode constar no lado esquerdo do afresco [figura 4], conversando com Sócrates.
Embora os trajes e o elmo de guerra pareçam confirmar essa teoria, existe também a hipótese de se tratar do político e estratego Alcibíades (450 a.C – 404 a.C.).
Importância e significado da obra
Uma obra majestosa e repleta de detalhes fascinantes, A Escola de Atenas reúne alguns dos maiores pensadores da Antiguidade, que viveram e produziram em épocas bastante distintas.
Aqui, eles são colocados todos no mesmo tempo e espaço, como se tivessem convivido entre si e dialogassem, trocando visões acerca do mundo e da própria filosofia.
A imagem poderosa transmite uma ideia de continuidade, como se os preceitos destes sábios não existissem isolados uns dos outros, mas funcionassem em rede e partissem de uma mesma matriz (centrada em Platão).
O afresco se tornou uma das obras-primas de Rafael Sanzio, representando a procura da verdade e o amor pelo conhecimento enquanto motores da mudança e da evolução humana.
Inspirada na herança cultural da Grécia Antiga, A Escola de Atenas recupera temas e formas do imaginário clássico, cumprindo assim um dos principais objetivos da pintura renascentista.
Rafael Sanzio e o contexto histórico da criação
Rafael Sanzio (1483—1520) foi um dos grandes nomes da Renascença italiana, ao lado de artistas estratosféricos como Michelangelo e Leonardo da Vinci. Ainda durante a infância, ele se tornou aprendiz do pintor Pietro Perugino e aos 17 anos já era considerado um mestre.
Aos 25 anos, Rafael foi contratado pelo Papa Júlio II para produzir obras para o Vaticano, algo que aumentou exponencialmente a sua fama e fez com que ficasse conhecido como o "Príncipe dos Pintores".
Foi durante esse período que o artista produziu o afresco em análise; não se sabe o quão objetivas foram as instruções que ele recebeu com a encomenda da pintura nem se dominava, ou não, os saberes da filosofia clássica.
O pintor permaneceu em Roma por doze anos e trabalhou também para o Papa sucessor, Leão X. Depois da morte de Bramante, o arquiteto do Vaticano, Rafael passou a assumir o cargo e ficou responsável pelas obras em curso.
Um pintor prodígio, ele faleceu prematuramente, no dia do seu aniversário de 37 anos, e foi sepultado no Panteão de Roma. O seu nome continua eternizado como um dos maiores artistas italianos e uma figura incontornável da pintura renascentista.
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