segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Governador do Rio de Janeiro ordena fechamento de exposição na Casa França-Brasil


A exposição Literatura Exposta, inaugurada na Casa França-Brasil no dia 4 de dezembro de 2018, tinha seu encerramento previsto para o dia 14 de janeiro de 2019, mas o mesmo foi antecipado, por ordem do governador Wilson Witzel, para o dia 13  – dia em que seria realizada uma performance do coletivo És Uma Maluca que faz referência à tortura durante a ditadura militar no Brasil.
O curador Alvaro Figueiredo recebeu um comunicado alegando que a programação para o dia 13 de janeiro não se encontra presente no contrato previamente assinado, caracterizando a quebra do mesmo. Em sua página do Facebook, o curador, que considera o acontecimento um ato de censura, afirma que havia comunicado anteriormente o teor das performances à direção da casa, que as havia autorizado: “Censura à exposição Literatura Exposta! Fecharam nossa exposição um dia antes da data oficial como forma de impedir que as performances da finissage acontecessem. Comuniquei com antecedência o teor das performances à direção da Casa, foi autorizado e ontem à noite enviaram esse comunicado. Esse é o governo que temos. A arte vai sobreviver aos ignorantes”, escreveu Alvaro em sua página. Confira abaixo a imagem do comunicado compartilhada pelo curador:





Uma obra do coletivo És Uma Maluca já havia sofrido interdição antes da abertura. A instalação intitulada “A voz do ralo é a voz de Deus” é composta por 6 mil baratas de plástico em volta da tampa de um bueiro, do qual sairiam trechos do discurso do presidente eleito Jair Bolsonaro. O áudio foi proibido pelo então secretário estadual de Cultura, Leandro Monteiro, e pelo diretor da Casa França-Brasil, Jesus Chediak, sendo substituído por uma receita de bolo.


És Uma Maluca, A voz do ralo é a voz de Deus

A mostra Literatura Exposta apresenta obras de 10 escritores da periferia que são interpretadas por 10 artistas visuais. A instalação do És Uma Maluca é inspirada no conto “Baratária”, do escritor Rodrigo Santos, de São Gonçalo. O conto, escrito em 2016 e vencedor do Prêmio Festa Literária das Periferias (Flup), traz a história de uma mulher que tem traumas de baratas desde que caiu em um túmulo cheio delas, no enterro de sua avó. Nos anos de chumbo, quando é presa, e um torturador introduz os insetos em sua vagina. Anos depois, a personagem o reconhece num bar do Rio e parte para cima dele, também usando uma barata encontrada no banheiro do estabelecimento.

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